Conheça a história de mulheres que superaram o preconceito e ajudaram a aumentar a presença feminina no mercado financeiro e do agronegócio.
Topa fazer uma viagem no tempo? Pense então no pregão viva-voz de uma bolsa de mercadorias. Se você nunca viu, te convido a assistir o documentário, disponível no youtube, chamado Floored into the pit. Na Bolsa de Chicago (CBOT) por exemplo, quase 10 mil pessoas ocupavam o pit de negociação. Eles usavam roupas coloridas, gritavam e gesticulavam até conseguirem comprar ou vender um determinado ativo, como milho, soja e trigo. Separamos um pedacinho do documentário pra você assistir:
Você consegue enxergar alguma mulher ali? (ok, pode rever o vídeo!)
Não! Elas não faziam parte do mundo dos negócios. “Isso não é coisa de mulher!” Quem nunca ouviu isso em algum momento da vida?
Mas elas vieram para quebrar paradigmas. Eu conto um pouco da história de como algumas mulheres e a Bolsa de Mercadorias (Brasil e Estados Unidos) aos poucos começaram a andar juntas no livro Mulheres do Agro – Inspirações para vencer desafios fora e dentro da porteira, da editora Letramento.
Após algumas décadas, o cenário já é diferente, mas ainda vem cheio de desafios. O número de mulheres no agronegócio teve um crescimento de 8,3% entre 2004 e 2015. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), a presença feminina no setor ainda luta para atingir a igualdade salarial, credibilidade e cargos de liderança nas empresas.
A superação é sinônimo de resiliência, de estudo e da paixão pelo que faz.
Regiane Nobrega trabalha como trader de derivativos e operações estruturadas da Bunge para o cone Sul. São 9 pessoas na sua equipe. Por trás de uma grande responsabilidade, vem também uma história de dedicação. De família humilde paulistana, ela sonhava em ser engenheira, mas a única saída era estudar numa universidade pública. Cursou a Escola Politécnica da USP e se formou Engenheira Química. A taxa daquele ano era de 9 homens para cada mulher, nitidamente uma profissão até então majoritariamente masculina.
Ela fez diversos estágios e chegou a trabalhar em uma siderúrgica em Cubatão, no chão de fábrica. “Nunca tive receio de lidar com om os funcionários homens, pelo contrário, éramos muito respeitadas. A empresa tinha regras claras de comportamento e isso em certos ambientes é fundamental”, conta Regiane.
No mercado financeiro, a presença feminina ainda é tímida. No agronegócio, de acordo com pesquisa da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), elas representam menos de 20% do mercado “fora da porteira”. Regiane conta que mesmo com a estatística desproporcional, ela seguiu motivada. “Na minha trajetória, tive muita força de vontade, apesar de ter que me provar diversas vezes”. A grande virada foi quando fez o MBA em Riscos Financeiros, que trouxe um toque especial na matemática aplicada ao negócio. Movida a desafios, ela não se contentou em ser engenheira e passar pelo mercado financeiro, por isso, decidiu buscar no agronegócio seu novo caminho profissional.
Hedge e comercialização de grãos
Com colegas de trabalho na Europa, Ásia e EUA, Regiane pode notar o quão diferente são os produtores e suas relações com o mercado financeiro.
Durante as viagens pelo Brasil, nos mais importantes núcleos agrícolas, ela descobriu a dificuldade dos produtores de entenderem e utilizarem ferramentas de derivativos para gerenciar riscos e alavancarem os seus resultados na precificação dos seus produtos. “O brasileiro tem melhorado a visão e perfil de risco, entendendo, cada vez mais, a necessidade de inovar. Fico feliz em acompanhar essa evolução dos nossos produtores rurais. Além disso, nessas andanças pelo nosso país, muitas vezes vejo as filhas e esposas tocando os negócios, se engajando cada vez mais, participando e sendo responsáveis pela negociação dos grãos. “, conta Regiane.
Neste mercado são muitas as variáveis que podem afetar os preços dos grãos, como a quebra da safra americana, a guerra comercial, a volatilidade do dólar, a peste suína africana e ainda a crise na Argentina. Como trader de derivativos, Regiane conta que o objetivo é de ajudar os produtores a garantirem a margem de lucro a não ficarem suscetíveis aos riscos de mercado. “ Há mais de 3 anos trabalhando na trading, vejo que o Brasil já evoluiu bastante, mas ainda temos um longo caminho a percorrer. E é este desafio que me move!”, acrescenta.
Valorização da mulher e da diversidade
Formada em Economia, Nathalia Rocha começou a trabalhar em 2007 numa consultoria para o mercado do agronegócio e de derivativos. A identificação foi imediata, mas não foi fácil. “Eu era a única mulher num grupo de 10 homens”, conta ela.
Pouco tempo depois, entrou na área comercial da Cargill. “Adoro o dinamismo dos mercados somado ao aprendizado e network”. Para Nathalia, o maior desafio é conquistar o respeito dos colegas. “Manter a postura de trabalho e saber se posicionar ajudam a vencer este obstáculo”, conta ela, “ Por sorte, trabalho em uma empresa que valoriza a mulher e a diversidade. No Brasil, já representamos 40% do total de empregados.”
Sobre as vantagens, ela acredita que as mulheres são mais resilientes, disciplinadas e organizadas no ambiente de trabalho. “ Com o tempo vamos ganhando nosso espaço e mostrando que um time misto pode agregar muito valor pela soma das diferentes habilidades entre homens e mulheres”, reforça Nathalia.
Para mulheres que gostariam de trabalhar na área comercial e de derivativos de multinacionais, Nathalia acredita que o caminho seja conhecer sempre os pontos fortes e fracos e se preparar melhor para cada oportunidade. “Eu sempre penso: Eu posso, eu quero, eu consigo!”
E com esta determinação que as “agrotraders” fazem toda a diferença no mercado!
Até semana que vem!