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Que tal fazermos um tour cultural com o viés feminista?

Caminito. Um bairro ( ou seria um museu a céu aberto?) de Buenos Aires tomado pela influência cultural do tango, uma dança cheia de sensualidade, em que a mulher se destaca.

Centro. A famosa casa rosada, que é a sede do governo do país. Na sacada, Eva Perón se eternizou ao cantar “Don’t cry for me Argentina”. Evita, ( popularmente conhecida), como primeira-dama, desenvolveu um trabalho intenso, tanto no aspecto político quanto no social. No que diz respeito à política, trabalhou intensamente para obter o voto feminino e foi organizadora e fundadora da ala feminina do movimento peronista. Essa organização se formou recrutando mulheres de diversos setores sociais por todo o país. Uma mulher à frente de seu tempo.

Puerto Madero: a ponte da mulher, que pretende representar um casal dançando tango. O mastro representa o homem, que segura por meio de cordas a curvatura central que simboliza a mulher, num passo típico da dança declarada Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco.

E ao fundo, os antigos armazéns de grãos ganharam o toque artístico da americana, Bárbara Kruger, reconhecida mundialmente pelo ativismo feminista. A obra sem título, tem como tema: “No puedes vivir sin nosotras”. A artista define que o trabalho envolve idéias de poder, propriedade, raça, sexualidade, crenças, dúvidas, gênero e dinheiro, entre outros. Na inauguração em setembro de 2018, ela reforçou a consciência da luta da mulher de retomar o controle do corpo de um conjunto de leis que trabalharam para marginalizá-la e excluí-la.

Em 2019, o movimento “Ni una menos” ( nenhuma a menos) completou 4 anos e tem como objetivo combater as mais diversas formas de discriminação de gênero. No ano passado, de acordo com dados oficiais, 278 mulheres foram assassinadas, vítimas da violência doméstica, do machismo e do preconceito. A legalização do aborto também é defendido pelo grupo. 

Apenas como comparação, no Brasil, temos cerca de 5000 mortes de mulheres registradas por ano. Sim, 5000! Só que ainda estamos muito além da luta e garra demostradas pelas argentinas para combater isso.

Na Agricultura, o cenário de discriminação não é diferente. A mulher timidamente tenta conquistar seu espaço. Em países como Brasil e Argentina, o fato de ser “mulher” ainda é um fator excludente. Em levantamento da Corteva AgriscienceTM, Divisão Agrícola da DowDuPont, produtoras rurais disseram que a disparidade financeira; falta de reconhecimento e pouco acesso a treinamentos são os principais entraves. Até a linha de crédito é menor para as mulheres que são donas de propriedades rurais, apontou a pesquisa que entrevistou mais de 4100 mulheres em 17 países.

Qual o próximo passo?

A Argentina é um exemplo para o Brasil em termos de luta da mulher por seus direitos: seja em mensagens subliminares, como nos pontos turísticos, na arte, e até nas mobilizações nas ruas ou no campo. Em cada canto, elas demonstram que são resilientes e que juntas são mais fortes. E fazem a diferença. Avante, Brasil! Que o nosso samba tenha um toque de tango!

(Opiniões expressadas neste artigo refletem apenas a visão da autora, sem nenhuma relação com empresa nenhuma)

Roberta Paffaro

Co-autora do Livro Mulheres do Agro | Atuou como Diretora de Desenvolvimento de Mercado, América Latina, CME Group | Colunista Canal Rural e Infomoney | Membro The Worldwide Association of Female Professionals | Agtech entusiasta

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